domingo, 13 de dezembro de 2015

Tiroteios e assaltos já são vizinhos de delegacias

Tiroteios e assaltos já são vizinhos de delegacias (Foto: Alberto Bitar/Diário do Pará)
Seccional fechada no bairro da Pedreira: semana passada, homem foi morto a 50 metros do prédio da polícia. 
Em junho deste ano, um tiroteio com mortes ocorreu a poucos metros da Delegacia da Cabanagem. Dois jovens de 20 anos tentaram roubar um policial militar que estava à paisana. A vítima reagiu e eles foram baleados. Não resistiram e morreram na passagem Monteiro Lobato, do outro lado da avenida Independência, a menos de 50 metros da unidade policial. 
Nem mesmo a vizinhança do principal órgão responsável pela segurança pública do Pará intimida os bandidos. Há mais de um ano, um médico de 62 anos foi ferido com tiro durante assalto no momento em que estacionava o veículo em casa, a 50 metros da Secretaria de Segurança Pública do Estado (Segup), na rua Arcipreste Manoel Teodoro, em Batista Campos. A ação foi registrada por câmeras de segurança residenciais. 
O último fim de semana do mês de novembro também foi assustador. Em diversos bairros de Belém e região metropolitana, homens armados invadiram coletivos. Vários passageiros tiveram objetos pessoais roubados. Em outros casos, a ordem foi direta: “Desçam. Iremos botar fogo nesse ônibus”. 
Mário Ronilson Costa, 37, era o motorista do Paar/São Brás incendiado às 5h do dia 29 passado. “Tinham um galão na mochila. Enquanto a gente descia do ônibus, eles espalhavam gasolina. Depois riscaram o fósforo. Sabiam o que queriam fazer.” Ao todo, sete coletivos foram alvos da ação criminosa, de Belém a Castanhal. “A sensação é de impunidade. Uma guerra urbana. A gente sai de casa para trabalhar e não sabe se volta”, desabafa Ana Maria Belém, gerente de loja.
“Toda essa insegurança vem do Estado”
O DIÁRIO conversou com Henrique Sauma, sociólogo e advogado criminalista, para valiar o momento de insegurança no Pará:
P: Que fatores que desencadeiam a violência urbana?
R: Política social, falência do sistema educacional, quantitativo do policiamento militar e civil, superlotação carcerária e outros. A violência é multifatorial. As coisas estão interligadas. E isso acontece principalmente em países que não priorizam a polícia social. 
P: É possível cobrar o Estado por sermos lesados, vítimas da criminalidade?
R: Não. A demanda de crimes é imensa. O crime é um fenômeno social. Vai acontecer sempre. Mas o problema é que vivemos uma endemia disso. A criminalidade ganhou proporções maiores que o Estado. O déficit do sistema prisional é de 5 mil vagas. Se todos fossem presos, onde iam ser colocados? 
P: De que forma a população pode cobrar o direito violado?
R: É investimento a longo prazo. De dois em dois anos, o cidadão tem uma arma poderosa chamada voto. Só mudará esse quadro quando a população se conscientizar de que o candidato eleito não está cumprindo o plano. Como isso não ocorre, políticos têm certeza da impunidade. 
P: Em que o programa de redução da criminalidade do Estado tem falhado?
R: Na estratégia para sufocar aquilo, ou no efetivo que não está sendo competente, ou ainda na inteligência. A partir do momento em que não se fala do problema, essa é uma estratégia para a população não dar ouvidos. Quando se tangencia o problema, é porque internamente se admite, mas não há argumentos para refutar. Ataque político, pessoal, oportunismo, não. O primeiro passo é admitir que o problema existe para tentar resolver. Porém, o secretário [de Segurança Pública] sequer reconhece. Ele trata o assunto como coisa fictícia. Não quer admitir o problema.

P: De quem é a culpa da insegurança pública?
R: O Estado é o maior violador de direitos constitucionais. Não dá saúde, educação, saneamento. Tudo começa no Estado, que não dá acesso aos serviços a que temos direito.

P: Como virar o jogo?
R: Com investimento maciço em políticas públicas. Precisamos mudar o foco. Temos que passar a discutir insegurança pública. O cidadão é o principal agente transformador e responsável quando elege aqueles mesmos políticos. Mude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário