quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Tortura em shopping durou uma hora

Tortura em shopping durou uma hora (Foto: Marco Santos)
Sidivaldo (de camisa preta) e Fany: 1 hora de pânico e terror
Após a repercussão do vídeo que mostra dois jovens sendo torturados por três seguranças do Parque Shopping, as vítimas deixaram o medo de lado e resolveram falar sobre o assunto. O vídeo circulou pela internet na última terça-feira (1), mas o fato aconteceu no sábado (28). Ainda psicologicamente abalados por tudo o que viveram em 1 hora dentro de uma sala, os estudantes Sidivaldo Ferreira, 20 anos, e Fany Castro, 18, acreditam que foram vítimas de preconceito racial e também pelo fato de serem homossexuais.
Os rapazes relataram  que, por volta das 20h30 do sábado, conferiam as ofertas de confecções em umas das lojas do primeiro piso. De repente, foram surpreendidos por dois seguranças que os acusaram de estar furtando produtos. Mesmo sem provas do crime, os dois rapazes foram levados por três seguranças do shopping para uma sala.
No vídeo que mostra parte da sessão de torturas, Sidivaldo leva 33 chineladas nas mãos e uma no rosto. Fany aparece ao fundo, em pânico, com algo que parece ser uma touca na cabeça. Não era. Tratava-se, na verdade, de um saco. Segundo ele, o saco foi utilizado para um tipo de tortura muito pior do que chineladas. “Eles sufocaram a gente, com os sacos na cabeça”, denuncia Fany.
As vítimas dizem, ainda, que foram agredidas em todo o corpo e submetidas a choques elétricos. Temendo que algo de pior acontecesse, Sidivaldo e Fany decidiram buscar ajuda. Segundo eles, os agressores os obrigaram a passar o endereço de suas casas e chegaram a ameaçá-los, se contassem a alguém.
Movimentos de Direitos Humanos foram mobilizados para cobrar a punição dos envolvidos. Além disso, o caso será denunciado à Polícia Civil para que seja aberto inquérito. Em nota, o Parque Shopping informou que os agressores foram identificados e que, de fato, eram funcionários do estabelecimento. O shopping informou, ainda, que repudia atos de violência, sobretudo por parte de seus colaboradores e está tomando as devidas providências. Os três agressores serão demitidos.

"A gente gritava, mas eles não paravam"
REPORTAGEM : O que aconteceu dentro daquela sala?
Fany: Foi horrível! Pânico! Pegamos porrada de graça. O que revolta é que não roubamos nada! Foram chutes e choques durante 1 hora. Queriam me sufocar, com um
saco na cabeça.
Sidivaldo: Pisaram com aquelas botas nas minhas costas, me chutaram. Jogaram água na gente e depois deram vários choques. Sofremos
muito naquela sala. Foi um inferno.

REPORTAGEM: O que eles diziam?
Fany: Quando descobriram que eu era travesti e Sidivaldo era gay, aí que falavam que não iam parar. Diziam que ‘viado’ tinha de apanhar em dobro. A gente gritava, mas eles não paravam. Diziam
que iam cortar meu cabelo, pra eu virar homem.
REPORTAGEM: Por que vocês demoraram a denunciar?
Fany: A gente ficou com medo, por causa das ameaças. Fizeram a gente dizer onde morava e disseram que algo pior aconteceria se a gente denunciasse. A minha mãe perguntou por que eu havia chegado daquele jeito: assustado e com marcas roxas. Tive de mentir. Disse que caí na rua. Nossa família só descobriu quando o vídeo foi divulgado.

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