sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

PSM fica sem equipamento e pacientes morrem


A população de Belém já sabe que a saúde pública vive tempos de crise total. Mas o fato que, segundo denúncia enviada pelo WhatsApp (veja à direita), ocorreu na madrugada de ontem assustou até os maiores críticos do prefeito Zenaldo Coutinho. Segundo um médico que trabalha no PSM do Guamá e que pediu anonimato, temendo represálias, duas pessoas morreram no local, em consequência de uma decisão do prefeito.

Para mostrar à imprensa uma falsa reabertura do PSM da 14 - o hospital ainda não está funcionando de fato -, que sofreu um incêndio há 8 meses, o prefeito teria mandado tirar uma máquina do PSM do Guamá e levar para o da 14. “Sem o aparelho, não pudemos prestar atendimento a dois pacientes, que vieram a morrer”, afirmou o médico. A denúncia é gravíssima e tem de ser apurada pelo Ministério Público e pela Polícia. O aparelho em questão é chamado pelos médicos de “carrinho de anestesia” e é utilizado para monitorar as funções vitais do paciente e mantê-lo anestesiado durante a cirurgia. “Sem o carrinho, é impossível fazer uma operação”, destacou o médico ouvido.

Segundo ele, havia dois carrinhos no Guamá. “Um funcionava perfeitamente, mas o outro vivia dando problemas”. Foi justamente o equipamento bom que Zenaldo teria mandado levar para o PSM da 14, para apresentar à imprensa. Com isso, o hospital do Guamá ficou apenas com a máquina defeituosa, que deu problemas na madrugada de ontem e causou a morte dos dois pacientes, já que não havia nenhum aparelho para atendê-los. Fotos enviadas a pelo médico do local mostram a sala de cirurgia sem o carrinho de anestesia. Na imagem, veem-se apenas os tubos na parede, que deveriam estar conectados ao equipamento.Dois morrem após Zenaldo tirar aparelho de PSM (Foto: Via/WhatsApp)
SOCORRO

Segundo o mesmo médico, um dos problemas do carrinho que ficou no PSM do Guamá era que ele apresentava vazamento do gás anestésico, o que compromete todo o procedimento. O médico ouvido pelo DIÁRIO afirmou, ainda, que os servidores do hospital já relataram, diversas vezes, esses e outros problemas à direção do PSM. “Mas nada nunca é resolvido. Estamos todos desesperados”, desabafou o médico. Para ele, nada pode ser pior do que ver alguém morrendo simplesmente por falta de equipamentos. “Não suportamos mais. Nós, que trabalhamos na saúde pública, estamos clamando por socorro!”.

"É DESESPERADOR"

A tragédia ocorrida, ontem, no PSM do Guamá levou servidores do hospital a ir à seccional do bairro do Guamá, para registrar um Boletim de Ocorrência. A medida teve como objetivo tirar deles qualquer responsabilidade pela morte dos dois pacientes. Ao saber que o carrinho de anestesia havia sido levado ao PSM da 14 apenas para compor o cenário do “novo” hospital, dando a ideia de que o local estava devidamente equipado, os servidores se revoltaram. “Isso é um absurdo. Vão inaugurar um ‘novo’ hospital com equipamentos velhos de outro”, reclamou um médico.

Por volta das 15h de ontem, um anestesista do Guamá deu uma declaração emocionada, por telefone, ao DIÁRIO: “Neste momento, temos 4 cirurgiões parados aqui, sem fazer nada, devido à falta do carrinho de anestesia. É desesperador”.

Segundo ele, os médicos não podem fazer nada enquanto não tiverem o equipamento de volta. Para agravar a situação, o aparelho de Raio X ainda está quebrado e não há leitos no Centro de Terapia Intensiva (CTI). “O prefeito inaugurou o PSM da 14 apenas para tirar foto, mas o material que está aparecendo nas imagens saiu do único PSM que funciona, o do Guamá. E agora estamos sem condições de operar”, desabafou o funcionário público. O problema só foi solucionado por volta das 16h30 de ontem, quando outro carrinho de anestesia chegou ao PSM do Guamá. Os servidores não souberam informar se era o mesmo aparelho que tinha sido para o PSM da 14 ou se era outro.
Denúncia afirma que o prefeito tirou máquina do PSM do Guamá e mandou para o da 14. Com isso, duas mortes ocorreram no Guamá.
OMISSÃO

Enquanto a população sofria com a precariedade do atendimento em outras unidades de saúde, o prefeito da cidade, Zenaldo Coutinho, acompanhado dos seus aliados políticos, o governador do Estado, Simão Jatene, e o prefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro, reinaugurou o Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti (PSM) da 14, que pegou fogo no dia 25 de junho de 2015. Em decorrência do incêndio, 3 pacientes que estavam internados morreram e o hospital foi fechado.

O prefeito poderá ser processado criminalmente, já que o Ministério Publico Federal (MPF) e os bombeiros o alertaram sobre os riscos de uma tragédia. Procurador de Justiça e membro do Núcleo de Combate à Improbidade Administrativa e Corrupção do Ministério Público do Estado do Pará (MPE), Nelson Medrado foi autorizado pelo desembargador Leonan Gondim Cruz Júnior a investigar o prefeito de Belém, por omissão criminosa no incêndio.

Zenaldo pode ser condenado por homicídio doloso, já que havia sido alertado dos riscos de uma tragédia, mas não tomou as providências necessárias para evitá-la. A pena, nesse caso, pode chegar a 20 anos de prisão. Além de Zenaldo, serão investigados o secretário de Saúde do Município, Sérgio Amorim, e o diretor do hospital, Leonardo Lobato. Em janeiro de 2014, um parecer técnico do Corpo de Bombeiros, feito a pedido do MPF, apontou uma série de problemas na estrutura do prédio do PSM da 14, em especial no que se referia à fiação elétrica e aos equipamentos de combate ao incêndio.

"NOVO PSM" NÃO ESTÁ FUNCIONANDO

Mesmo com a pompa da cerimônia, o PSM da 14 só atenderá em 7 dias, pois haverá a desinfecção do local. Para reforma, foram gastos cerca de R$ 15 milhões do tesouro municipal.

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